ILHA DO FERRO
Um mergulho na arte popular de Alagoas
A viagem para a Ilha do Ferro foi motivada pela nossa intenção de destacar a riqueza cultural do estado de Alagoas em um projeto em Maceió.
Desde a concepção inicial do projeto, pensamos em criar um “altar de Alagoas”.
Assim, estendemos uma longa prancha na entrada do apartamento para receber toda essa arte popular.
Quando chegou o momento da curadoria, embarcamos em uma viagem pelas estradas do sertão e descobri coisas que nem imaginava.
Aprendi que cada região do estado possui um material característico no artesanato e na arte popular, como o barro, o bordado e a palha.
Visitei duas cidades. A primeira foi Capela, onde o barro é o material mais presente.
Fui ao centro João das Alagoas, onde conheci o próprio João, um mestre que já ensinou muitos a trabalhar com o barro.
Além de ser um artista com obras de alto valor, ele é também poeta.
Percebi que sua poesia faz parte de seu processo criativo.
Fotografei uma frase dele em uma parede: “De dia faço arte, à noite sonho criando”. Ele me contou que realmente sonha com as coisas que faz.
Ao lado do ateliê de João, há outro, dividido por outros artesãos, onde conheci a Sil, que faz jaqueiras em barro, e a Adriana, que cria enormes jacas em barro, modelando cada pontinha com uma organicidade impressionante. Perguntei a ela: “Por que você faz jaca?” Ela respondeu que é porque gosta de comer jaca, rs. Conheci também o Cláudio das Miniaturas, que tem uma obsessão por fazer miniaturas de cenários. Fiquei surpreso ao perceber que o que ele criava em miniatura dentro do ateliê era o que me cercava lá fora
De lá, parti para a Ilha do Ferro, onde o material predominante é a madeira. No caminho pelo sertão até o rio São Francisco, fiquei surpreso com a simplicidade do lugar. A chegada é por uma estrada de terra, onde vacas e burros dormiam; houve momentos em que pensei que teria que descer do carro para acordá-los e pedir licença para passar, kkk. Apesar do nome, o povoado não é uma ilha, mas sim às margens do rio.
A cidade tem basicamente duas ruas. O exercício é entrar em todos os ateliês e conhecer cada artista, geralmente em suas próprias casas. São pessoas com um dom para a arte e uma simplicidade enormes. Os que mais me encantaram foram:
Cícero, que sempre pinta um peixe preto em suas obras. Encomendei uma escultura para o projeto de Maceió: uma boneca com um pássaro vermelho na cabeça e um peixe preto na barriga, com um despojamento que caberia facilmente em uma loja da Osklen.
No Ateliê Boca do Vento, fundado pelo Mestre Fernando, fiquei apaixonada pelos bancos que contam histórias. Esses banquinhos têm os “clássicos” pés de troncos de árvores finos e retorcidos, mas em seu assento circular, estão escritas as frases do Mestre Fernando, sendo necessário girar o banco para ler a história.